Bem-Vindo!

O Dama da Noite como todos sabem fechou as portas no lindo casarão da Gomes Freire no ultimo dia do ano de 2005 mas o nome já é referencia cultural e de boa musica. Por isso estaremos ocasionalmente recomendando eventos e shows que merecerem o nosso apoio. Vejam fotos
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quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Uma questão de todos!

Desculpem, mas essa semana não tenho vontade de divulgar nada. E peço novamente desculpas por publicar assuntos que normalmente não fazem parte dos que gosto de colocar aqui. Mas estou muito mobilizada com toda essa violência, enojada com esse jogo de poder. Prometo que semana que vem volto mais alegre e com coisas alegres da nossa cidade.

Acho que todos estamos mais uma vez muito chocados e mobilizados pela situação de violencia na nossa querida cidade. Todos sabemos que o que está acontecendo é consequencia de anos de abandono dos poderes publicos nas questôes sociais e educacionais das nossas crianças que viraram monstros e agora queremos mata-los, extermina-los.Aplaudimos quem o faz! Isso tudo junto com os interesses de poder de politicos e empresários a quem não interessa terminar com um trafico tão lucrativo ( armas e drogas).

Enquanto isso em menos de uma semana, 29 pessoas mortas ( fora o que não é noticiado).
Muito mobilizada como todos ,li um texto muito bom sobre o assunto Questão de todos
E no meio disso tudo, acabei de ler uma declaração do Eike no meio de uma declaração de amor ao RIo " Não quero ser o homem mais rico do mundo, mas sim o mais generoso" Que lindo, né?

Questão de todos Miriam Leitão O Globo

A derrubada de um helicóptero da Polícia Militar não é apenas mais um episódio da guerra do tráfico de drogas no Rio. É um agravamento, uma mudança de escala. Não é como o secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, pensa: “Um ato de desespero dos bandidos.” É uma demonstração de força. O Rio ser uma cidade olímpica dá mais destaque à notícia, mas o crime tem que ser combatido por nós.

Não é pela Olimpíada que o Rio tem que encontrar caminhos de solução do seu pior problema — a violência ligada ao tráfico de drogas —, mas porque essa é a única forma de salvar a cidade.

Outro dia, estive no Complexo do Alemão para fazer uma gravação. O PAC estava lá, com suas obras. Era fácil até ouvir o martelar da construção. Mas não havia Estado. Havia obras, mas não a presença do Estado. Vi na rua central da Grota jovens armados com fuzis, à luz do dia. Subi uma daquelas ruelas sinuosas até à laje onde faria a gravação. As ruelas não são mais de chão batido, escorregadias. Agora estão cimentadas. Melhor. Mas numa das encruzilhadas da subida, vi uma mesa de venda de cocaína, com inúmeras sacolinhas de pó. Em outra mesa, o dinheiro exposto. Na volta, vi que havia mais dinheiro e menos sacolinhas. Cruzei com trabalhadores voltando das obras do PAC. Melhor que elas sejam feitas e que eles tenham emprego, mas não basta edulcorar a realidade, é preciso transformá-la.

Não é um problema banal. Fosse, teria sido resolvido. Mas ontem, a ministra-candidata Dilma Rousseff disse que a violência no Rio mostra “o quanto faltou o Estado, no sentido amplo da palavra, nestas comunidades.” Exatamente. Mas pertencendo a um governo que está no seu sétimo ano, sendo aliada do atual governador e tendo o apoio dos dois últimos governadores à sua candidatura — Rosinha e Anthony Garotinho — talvez ela devesse ter mais a dizer do que culpar um ser incorpóreo. Devia perguntar aos seus três apoiadores o que deu errado até agora na política de segurança pública do Rio nos últimos 10 anos. O problema, claro, é mais antigo: mas uma década já faria diferença se o Estado estivesse estado presente, no seu sentido amplo, nestas comunidades.

Uma das dificuldades óbvias é a falta do governo federal. A cada crise, o governo oferece a Força Nacional. A Força é para emergências e nós temos aqui uma rotina de uma complexa violência cujo pior ingrediente é o tráfico de drogas. E o tráfico é responsabilidade do governo federal combater. É ele que tem que estar nas fronteiras secas e molhadas, é o aparato policial federal que tem que combater o tráfico. Aqui, as polícias Civil e Militar, além das funções de prevenção, policiamento e investigação, ainda acumulam o combate de uma verdadeira guerra contra o tráfico.

Em 2002, fui ao Morro dos Macacos com Rodrigo Baggio, do Centro de Democratização da Informática. Lá, ouvi dos moradores a seguinte explicação para a geografia do drama local: a favela está sob o controle de um grupo de traficantes, cercada por traficantes rivais por todos os lados. Por isso vive em guerra. Sete anos depois, tudo igual.

Na primeira entrevista coletiva que deu no segundo mandato — cinco meses depois de reassumir — o presidente Lula disse o seguinte, quando perguntado sobre o assunto segurança: “Vamos colocar as coisas no seu devido lugar. A questão da segurança pública, o governo federal não é um foco principal, é uma força auxiliar de um sistema que é majoritariamente controlado pelos estados. O governo federal só entra quando é pedido.” Resposta errada. Todas as instâncias de poder têm uma parte da responsabilidade, e o governo federal não é “auxiliar” no combate ao tráfico de drogas e armas, é o principal ator.

Está claro que está havendo um aumento do poderio das armas dos grupos de traficantes no Rio de Janeiro. Como o Rio tem cerca de mil favelas, pelo menos trezentas delas ocupadas pelo tráfico de drogas através de três facções inimigas — e isso sem falar na milícia —, está havendo uma corrida armamentista na cidade. Só de 2007 para cá, as polícias do Rio capturaram 35 metralhadoras antiaéreas, fora as incontáveis granadas e fuzis. Armas de guerra. Se está ocorrendo isso, as forças federais têm responsabilidade porque são elas quem têm que combater o tráfico de armas. Não é um favor ao Rio ou ato de solidariedade.

Há casos bem sucedidos nesse mar de fracasso que é a política de segurança pública do Brasil. Liguei ontem para o sociólogo Gláucio Soares para ver se ele me contava alguns desses bons casos, para amenizar essa coluna. Gláucio começou com uma frase forte. “Passei as duas últimas semanas na prisão.” Deu uma pausa e completou: “pesquisando.” Foi na prisão de Caruaru, dirigida por uma mulher, Sirlene, onde ele encontrou um recorde: não há rebelião, ninguém quer ser removido, e há casos muito bem sucedidos de integração. Uma das razões é a mobilização de empresas feita pela direção do presídio para o ensino de vários ofícios dentro da prisão, o trabalho remunerado, e a esperança de contratação na saída.

Há alguns casos de queda de criminalidade, de homicídios, mas há um sub-registro também. Segundo a Secretaria Nacional de Segurança Pública, menos de 20% dos crimes ocorridos chegam à Polícia para registro. Isso dificulta a análise das estatísticas e penaliza os estados onde a população confia na Polícia.

O total de gastos realizados pelos governos estaduais em segurança pública subiu de R$ 24 bilhões para R$ 33,5 bilhões, de 2005 para 2008, mas os gastos federais são apenas 0,6% do Orçamento, segundo o Anuário do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Pouco. Quase nada.

Blog do Noblat- 20 de outubro e hoje http://oglobo.globo.com/pais/noblat/posts/2009/10/21/a-guerra-do-rio-uma-metafora-cavilosa-234082.asp

"O 11 de Setembro do Rio de Janeiro, segundo Beltrame

"No domingo a noite me telefonaram de Brasília e me ofereceram para comprar um novo helicóptero. Lógico que precisamos de helicópteros, e vamos continuar usando. Mas tive que dizer não, obrigado".

A revelação acima foi feita ontem à noite pelo Secretário de Segurança do Estado do Rio de Janeiro, José Mariano Beltrame, em conversa com um grupo de líderes cariocas de vários setores.

"O Rio precisa que o governo federal assuma plenamente a responsabilidade legal de combate à droga. Se não assume, nós assumimos. Tudo bem. Vamos fazer. Estamos fazendo. Mas policia estadual é responsável por prevenção e investigação. Por encontrar e entregar o criminoso à Justiça. Tráfico de drogas é com a Polícia Federal. Infelizmente, no Rio não é. A Secretaria de Segurança faz as duas coisas aqui. Ou melhor: faz as três. A saber: a polícia de prevenção e de investigação, a polícia de combate ao tráfico de drogas, e a polícia de proximidade, de reconquista dos territórios."

Na verdade, ficou claro durante a conversa com o secretário que sem a retomada de pelo menos 43 favelas, das mais de 1000 que hoje existem sob o controle das milícias e do tráfico, não se pode fazer prevenção nem investigação. Os criminosos, traficantes ou não, abrigam-se nesses territórios.

Não existe estado de direito sem sua base física. Alguns focos do território do Rio de Janeiro estão longe do controle do Estado, seja ele municipal, estadual ou federal. Beltrame faz questão de usar a palavra focos, separando a segurança do conjunto do Estado do Rio desses focos de insegurança.

"Reconquistar a territorialidade e acabar com o uso dos fuzis do tráfico são o nosso maior objetivo. O problema do fuzil é o alcance dele. Do alto uma favela, em morro mais alto, se pode atingir com esses modernos fuzis alvos a 4 km de distância. Muito além dos limites da favela."

Algumas favelas já foram pacificadas com a polícia de proximidade, como é chamado esse tipo de operação. Mas depois é preciso que as creches entrem, as escolas entrem, as moradias populares entrem, a iniciativa privada entre. Se não entrarem, tudo volta ao que era antes, admite Beltrame.

E vale a pena entrar. A Light, por exemplo, tem entrado nas favelas pacificadas por meio do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). A receita da empresa cresceu mais de dez vezes. Apenas cerca de 50% dos consumidores pagam a conta em dia. O resto atrasa. Mas nessas favelas, dos que pagam, 78% pagam em dia.

"O Rio vai aumentar seu contingente de policiais de 43 mil para sessenta mil. Se você comparar com as polícias dos demais países, é um nivel elevado de policial per capita. Mas a questão é que aqui tem que se cumprir esses três objetivos ao mesmo tempo: prevenção e investigação, combate ao tráfico e reconquista da territorialidade. Em São Paulo, não existe controle de territórios, a ação é difusa e a polícia paulista luta contra apenas uma facção criminosa: o PCC. No Rio, lutamos contra quatro: Comando Vermelho, Amigos dos Amigos e Terceiro Comando - além das milícias. Cada um deles assentado num território e disputando o dos outros."

Mas que tipo de ajuda Beltrame tanto espera do governo federal - além do helicóptero que recusou a princípio?

Se ele se mostra determinado e confiante no combate aos criminosos, mostra-se também impaciente e cauteloso com a burocracia estatal. Esse talvez seja o seu maior inimigo. Sobretudo porque aqui o combate é cultural, legal e sem cara. É contra ninguém e todos ao mesmo tempo. Os alvos são múltiplos e invisíveis.

Um alvo são as leis de licitação que emperram tudo. O tempo da burocracia não é o tempo do combate.

"Preparei mais de quarenta cabines blindadas com ar condicionado, um micro ondas para esquentar as quentinhas e geladeira. Aí contestaram um aspecto formal da licitação. Estão todas guardadas. Em tempo de caça às bruxas não posso assumir tal responsabilidade. Quando decidirem se posso colocar as cabines, colocarei. Mas como não se decidem, os jovens policiais continuam indevidamente protegidos".

Outro alvo são as leis penais.

"De cada dez presos no Rio de Janeiro, oito são reincidentes. Ou seja, são criminosos que já foram presos, mas pela progressão das penas foram soltos muito antes de cumpri-las. Ou seja, um desperdício. Gasta-se dinheiro, armamento, viaturas e vidas para se prender o mesmo criminoso várias vezes. A lei tem que mudar.

Se quero comprar um carro especial de combate ou uma caminhonete blindada em Israel ou África do Sul onde as melhores são produzidas, tenho que pedir autorização ao Exército. Tudo que se possa enquadrar como arma de guerra tem que ser autorizado pelo Exército. E tudo demora. O traficante tem acesso a essas armas muito mais rapidamente do que o Estado."

É facil sacar do quê a burocracia se alimenta: de uma lei de licitação apenas formal, de uma lei de processo penal de desperdício de condenações, de uma reserva de mercado para acesso ao armamento necessário, e de um insuficinete combate ao contrabando de armas.

É lógico que o secretário queria o helicóptero mesmo dizendo não, obrigado. Mas ele precisa, hoje, muito mais do intangível do que do tangível. Quem vai liderar a busca deste intangível sem o qual não se faz uma nação pacificada e pacífica?

"O que eu queria mesmo é que entendêssemos a queda do helicóptero no último dia 17 como sendo nosso 11 de setembro. E a partir daí houvesse política de segurança, não de governos, mas de estado. Não de um, mas de todos. Sociedade também."

O que o Secretário faltou dizer, eu ouvi de um morador de favela:

- Taí. Só falam mesmo em Olimpíadas.

Até agora, político em eleição escapava do tema da segurança. Os especialistas em marketing diziam que era um tema negativo, polêmico, difícil de contentar a todos. Mas em 2010, com certeza vai ser diferente.

Na verdade, tudo indica, particularmente no Rio, que 11 de setembro de 2001, l7 de Outubro de 2009, 3 de Outubro de 2010 e Julho de 2016 serão datas que farão parte de um mesmo dia. Talvez o mais longo dos dias."

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